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As emissoras de rádio, TV e a Internet falavam única e exclusivamente na Pandemia e aguardava-se a liberação da primeira vacina. Havia os que preferiam aguardar pela mais eficaz e os que se dispunham a tomar Coronavac, cuja 3ª fase de testes comprovou possuir 50% de de eficácia, numero considerado mínimo pela Organização Mundial da Saúde.


No estado de São Paulo a previsão era iniciar a vacinação em 25 de janeiro de 2021, dia do aniversário da cidade.


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Os hospitais já estavam com materiais escassos. Respiradores e instrumentos para entubamento começam a ser raros, dentre tantos outros de uso mais comum, embora extremamente necessários.


Estávamos no final de dezembro e mesmo diante de tal desventura, a população mundial aguardava pelas comemorações de final de ano. Famílias inteiras haviam se visitado pouquíssimas vezes ao longo do ano, trabalhava-se em casa e poucas crianças conseguiam manter a rotina escolar e o aprendizado.


Os testes para detecção de contaminações eram caros e de difícil acesso, o que aumentava a sensação de que não haveria Natal nem Reveillon na porção cristã do planeta.


Apesar de o consumo ter diminuído substancialmente em todos os seus itens, o comercio se desdobrava para manter-se “vivo”. Supermercados, farmácias e lojas providenciavam entregas domiciliares, com preços bem abaixo dos anteriormente praticados.


O setor de logística teve uma alta estrondosa e a principio um tanto caótica.


Como todos trabalhavam em casa, as famílias foram obrigadas a conviver com a própria família. Enquanto o pai trabalhava na mesa da sala a mãe usava uma cômoda do quarto para apoiar sua estação de trabalho.


As crianças não podiam sair e muitas não tinham como desenvolver os estudos. E tudo isso acontecia em 50, 60, 70 m² em média.


As roupas destinadas ao trabalho permaneciam nos armários, dando lugar a camisetas e bermudas. Sapatos eram substituídos por chinelos e o trabalho doméstico era dividido entre os familiares.


As relações abusivas tornaram-se frequentes, as brigas diárias e a inevitável exaustão.


Apesar de tudo o mundo econômico mantinha-se, contratando via conferencia e demitindo da mesma forma. Gestores que apenas viam ou ouviam seus colaboradores na tela do computador era algo comum. As pessoas deixavam de saber como eram as outras e o stress subia na velocidade da luz.


Evidente que haviam saídas às escondidas e ate soluções criativas para situações costumeiras. Muitas mulheres grávidas faziam seus chas de bebe em carreatas, recebendo seus presentes sem poder aproximar-se de quem participava do evento.


Aniversários eram comemorados sempre com telas ligadas e vários links abertos. Irmãos num local, pais em outro, amigos em outro. Mas a comemoração acontecia, ainda que virtualmente.


De fato tudo mudava o tempo todo numa velocidade amedrontadora.


Com a possibilidade das primeiras doses da Coronavac ser oferecida no final do mês de janeiro, muitos se atreveram a comemorar o Natal em família, com o uso de máscaras e demais apetrechos, além do álcool gel.


Já era esperado que após proximidade de pessoas aumentasse ainda mais o numero de casos de infectados e de óbitos.


O Brasil atrasava-se, muito, para o inicio da vacinação, por questões políticas, disputas egóicas abomináveis, enquanto as variantes da SarsCov2 se apresentavam, cada vez mais fortes e letais.


A Anvisa cumprindo ou não seu papel, também deixou o processo mais lento, mas o dia tão esperado estava por chegar. Já havia em solo brasileiro 6 milhões de doses da Coronavac e 2 milhões da vacina de Oxford, em parte importadas e em parte produzidas pelo Instituto Butantan e FioCruz.


No dia 07 de janeiro de 2021 em apenas 24 horas, 1.841 mortes foram registradas e após a certeza de que uma nova variante já circulava, em 17 de janeiro de 2021 aviões da Força aérea decolavam transportando doses para grande parte do pais. Na segunda quinzena de janeiro, e já num pais devastado física e emocionalmente falando, a Anvisa concedeu aprovação para uso emergencial da Coronavac e da vacina de Oxford.


Os primeiros a ser imunizados seriam os profissionais da linha de frente da Saude: médicos, enfermeiros e todos que entrassem em contato direto com os infectados.


Na sequencia viriam os mais velhos, internados ou não. Cada estado e cidade escalonou a distribuição e aplicação dentro de suas próprias condições.


Em geral a vacinação era feita sem que as pessoas saíssem dos carros, que formavam filas enormes, em busca da esperança de viver um pouco mais.


Nessa fase era comum ver filhos e netos carregando seus bisavós, avós ou pais para a dose inicial. Cada uma era comemorada mais que um gol em Copa do Mundo


Mas a Pandemia continuava a matar. O que intrigava é que os lutos passaram a fazer parte do comportamento como normal. Já não se via lágrimas ou desespero. O povo estava iniciando algo próximo de uma anestesia emocional.


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